sexta-feira, 25 de março de 2011

Muita coragem para mudar o discurso


A falta de seriedade aliada à preguiça e ao distanciamento da honestidade da prática dos políticos vem há décadas, mantendo o enganador discurso fácil, aquele que usa palavras esvaziadas do sentido verdadeiro, mas que o povão já assimilou como grandes conquistas do bem falar.

Para quem quer tão-somente se dar bem na política, candidatos usam e abusam das palavras e expressões como

por um Brasil mais justo’;
a sociedade como um todo;
democracia;
cidadania;
social;

E por aí segue a cantilena enganadora.

Para tirar proveito do que é lugar comum, ‘por candidato melhor para o Brasil’, rezamos para que apareça algum e mude esse discurso de baboseiras e faça seu eleitor compreender que, apenas o voto posto na urna não faz dele um cidadão. O que fará dele um cidadão é o acompanhamento da atuação política do seu candidato, se eleito.

Todavia, não é do interesse do político que seus eleitores o acompanhem. Não é por todos os motivos que vemos acontecer na política brasileira. O eleitor por perto do seu representante significa ser vigiado e cobrado.

Exatamente aqui, que os políticos erram e seus eleitores pecam feio. Os políticos por medo de ficar ‘na mão’ dos seus eleitores, deixam de receber deles o que mais lhes facilitaria a vida representativa. Os eleitores pecam por não avisar ao seu candidato que será um eleitor fiscalizador, e cumprir: quer meu voto? O preço será alto. O preço é ter-me por perto feito um cão nos seus calcanhares.

Mas como isso seria possível ? Aqui entraria uma nova maneira de fazer política. Tem que partir do próprio candidato, a exigência de que seus eleitores permaneçam com ele por todo o mandato. A inovação é esta: dizer ao eleitor que irá precisar muito mais dele, após as eleições, e seguir o esforço para manter-se próximo aos eleitores e não por meio de delegados e assessores.

O candidato, para inovar desta maneira, precisará falar direto aos eleitores pela via pedagógica, fazendo uso de um conjunto de técnicas de ensino que facilite a educação do seu eleitor. Aqui, é o político que tem o dever de educar seu eleitor, explicando o que é da função do cargo que ocupará, falando sobre as dificuldades que ele enfrentará, quando eleito. E, precisamente, enumerar as dificuldades, ao máximo que for possível fazer.

Antecipar aos seus possíveis eleitores, a parte que lhes caberá nas horas das dificuldades. Uma das dificuldades, por exemplo, apresentação de projeto que demorar para ser apreciado. No caso de um vereador, é muito mais do que possível, arrebanhar seus eleitores para trabalharem juntos. O mesmo no caso de votação do projeto, os eleitores podem agir como fiscais de outros vereadores e colaboradores valiosos do seu representante.

O eleitor bem esclarecido da sua importância estará muito mais estimulado para, aí sim, exercer, de fato, sua cidadania. A participação próxima do eleitor o fará sócio na derrota e na vitória. Sócio no mais perfeito sentido do que é a cidadania.

Neste processo de educação do eleitor, retirar dele o vício de compra do voto. Ter coragem para dizer ao eleitor que não pagará pelo voto, que não fará favores pessoais porque assim já estaria comprometido antes mesmo de ser eleito. Se o eleitor vende o voto, como poderá querer cobrar alguma coisa que já foi paga antecipadamente ?

O eleitor, em geral, são os maiores incentivadores da corrupção dos políticos quando estes ainda são candidatos. Campanha eleitoral é a primeira escola onde o político aprende a corromper-se e a corromper. Mas esta grande maioria de eleitores, não pensa que ele é o primeiro mestre de aulas de corrupção.

Quem quer entrar para a política quer ganhar eleição, não importando o preço. Esta tem sido a prática até nossos dias. O candidato faz de tudo para não perder o voto e aí se compromete em discursos que são torrentes de mentiras, porque são mentiras que o eleitor pede para ouvir. Se o candidato for dizer abertamente sobre as dificuldades que ele está passando e passará, após eleito, o eleitor não quer ouvir isto.

O eleitor não quer saber que vereador não é governador nem prefeito. Na cabeça dele o vereador é para mandar asfaltar a rua dele, providenciar luz elétrica, resolver questões de toda sorte. Assuntos e problemas da alçada até, de deputado estadual ou federal. Por outro lado, o candidato também, para evitar expor pontos fracos, sequer deseja falar das barreiras políticas locais, sejam partidárias ou dos donos dos feudos econômicos e fala muito menos daquilo que é função da sua representação.

A esperança é que surjam candidatos que não se rendam aos costumeiros vícios da nossa política, que tentem educar o eleitor. Para isto, tem que ter muita coragem, porque já se sabe que o eleitor se sentirá ofendido com recusas. Mas, se educado, ele será o aliado maior, transformar-se-á em novo conceito de curral eleitoral.

Curral eleitoral terá nova conotação. Uma boa conotação. Basta imaginar um representante político convocando seus eleitores para alguma luta em algum momento do mandato. O eleitor terá que atender ao chamado sob pena de não ter como reclamar.


Maria da Penha Vieira
www.dominiofeminino.com.br
Blog do DominioFeminino